BILHETE POSTAL
Por Eduardo Costa
“O ambiente aquece muito”. Foi assim que um distinto amigo comentou as eleições autárquicas..
No meio disto está a imprensa. Mesmo séria e cumprindo as regras, não deixa de ver-lhe atribuídos ‘rótulos’.
Sofre também a imprensa (local) de abusos de poder nestes atos eleitorais. Que, estranhamente, as mais das vezes vêm de ‘autoproclamados’ bastiões da defesa da democracia. Numa visão periférica e enviesada.
Por exemplo, o daquele presidente da junta que proibiu um jornalista de aceder às secções de voto. Arranjou uma leitura própria das regras. Mesmo perante os canais de televisão nacionais que acompanhavam a votação nas mesas de voto, e assim com mais motivos para conhecer a factualidade, vai daí lembrou-se que na ‘sua’ freguesia os jornalistas não podiam aceder às secções de voto. Perante a proteção bem definida na Lei de Imprensa, o jornal exerceu o seu direito de recorrer às autoridades policiais, que prontamente agiram. Protegendo corretamente os direitos dos jornalistas.
Portanto, na ‘visão esclarecida’ deste autarca, a decisão de permitir que um jornalista faça o seu trabalho tem de ser autorizada por um político eleito. Na interpretação paroquial da lei.
Quo vadis liberdade de imprensa ou ‘essa coisa’ chamada democracia. Qual Lei de imprensa, que protege os jornalistas de abusos do Poder!
“Aqui quem decide sou eu, o presidente da junta! Era lá o que faltava ‘estes’ indivíduos, que só por serem jornalistas, acham que podem aceder às secções de voto! Quem manda aqui sou eu!”. Assim deve ter pensado o ‘distinto’ autarca.
A democracia tem ainda um longo caminho a percorrer.
Eduardo Costa, jornalista, presidente da Associação Nacional de Imprensa Regional
(Este artigo de opinião semanal é publicado em cerca de 50 jornais)